quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ópera (penúltimo capitulo)

              Capítulo 27-   
                     
durante um dos agudos da protagonista, na cena em que recebia o veneno do padre, Thur involuntariamente pôs-se a lembrar de alguns detalhes que antes lhe pareciam tão sem sentido. O detalhe que mais lhe chamara a atenção, de fato, e provavelmente conectado a cena que assistia, era a quantidade de GHB compradas por Brittany e Kimberly. 
Segundo as pesquisas de Rod, o volume do remédio que elas compraram seria o suficiente para levar um ser humano à morte, por ataque cardíaco. Como o único efeito que causara em Mica tinha sido apenas a tonteira e o desmaio, Thur duvidara que todo produto tivesse sido utilizado contra o garoto. 
Mas então o que, ele pensou, elas teriam feito com o resto das “gostas de amor”? Não poderiam tê-las guardado, uma vez que os danos não seriam mais os mesmos. E também não poderiam ter comprado a mais por engano, porque, mesmo sendo Brittany e Kimberly, elas não seriam tolas o suficiente para gastar um punhado de dinheiro com algo que não usariam. O fato de terem feito Mica consumir a dosagem exata para que o menino ficasse dopado era outro indício de que elas sabiam o que estavam fazendo.
A pergunta era: em quem foi aplicado o resto do GHB? 
Se elas estivessem realmente relacionadas ao assassinato de Ivane, que era o que tudo indicava, nada mais normal do que elas terem usado em outra pessoa daquele mesmo círculo de relacionamento. 
“Pense, Thur” dizia para si mesmo “Quem mais ficou desacordado aquele dia?”

Lua sentiu algumas lágrimas inundarem as margens de seus olhos. A dor em seu ombro, o fato de seu vestido estar sendo encharcado de sangue... Nada importava agora. Ela não conseguia sentir. Seus pensamentos estavam tão escuros e misturados que não conseguia se concentrar no presente, não conseguia sequer raciocinar. Alguém havia desligado sua tomada da realidade.
A única coisa que Luinha sabia, e que se dava ao trabalho de sentir, eram agora as lágrimas que rolavam em seqüência por sua bochecha. Assim como seu sangue, que se disfarçava no vestido vermelho, as gotas de choro eram quentes. 
- Isso não... – Luinha começou a dizer com a voz fraca. – Isso não está certo. 
Ela observou o cano do revólver calibre 22 virado diretamente em direção a ela. Lua engoliu em seco. 
- O que não está certo, minha querida? – o assassino perguntou.
- Não era pra ser você – tentou argumentar em desespero. – Era a Brittany. Como você pôde... 
Duan gargalhou alto. 
- Você o traiu! – Lua gritou. Depois engoliu seu berro e voltou a sua posição inicial, em completo estado de choque. 
- Eu nunca trairia o Thur. – Duan abriu um sorriso arregalado. Seus olhos, que antes pareciam simpáticos e doces, agora eram lunáticos. 
Lua segurou seu peito, tentando de alguma forma conter as batidas aceleradas e dolorosas de seu coração. Percebeu que estava ofegante. Sua pulsação latejava tão forte em seu pescoço que por um instante chegou a pensar que ele fosse se partir. 
- Você... – Luinha voltou a tentar dizer, mas sua tentativa acabou saindo em forma de sussurro. – Ivane e a Paskin... Você...?
Duan sorriu satisfeito.
- As duas. – concordou. – Acabei com a vida das duas. 
O queixo da garota começou a tremer assim como o resto de seu corpo. Sentia frio nos braços e principalmente no rosto, como se todo o sangue estivesse escapado de lá. O que não chegava a ser mentira, pois percebera que as gotas de sangue vindas de seu ombro ferido, por onde um tiro tinha a atingido de raspão, já estava gotejando no chão de mármore branco da antiga casa de shows. 
Por quê? – ela perguntou. 
O loiro alongou o pescoço sem perder seu sorriso. Enquanto ele fazia isso, Lua olhou desesperada para os lados, na esperança de encontrar alguém que pudesse ajudá-la. Ninguém. Estava deserto. Todas as pessoas que conhecia naquele lugar estavam dentro da ópera, inclusive Thur. 
Thur.
Como será que ele reagiria a sua morte? 
- Eu e a Ivane – Duan começou a falar em um tom despreocupado. – tínhamos alguns assuntos pendentes. Com isso eu quero dizer que não é todo dia que a vadia com quem você ficava se engalfinha com seu melhor amigo... – depois ele transformou seu olhar em um alfinetado, como se tentasse perfurar a face de Luinha. – Aliás, estou mudando minha percepção com relação a isso. 
Lua se apoiou no muro, inclinado a cabeça para trás para sondar a distância de onde estava até o chão. Impossível de pular. Era alto demais. 
Mas pensava que, talvez, se pudesse manter Duan falando, pelo menos adiaria sua morte. 
- E você matou a Ivane por ciúmes? 
O goleiro balançou a cabeça em negação. 
- Ciúmes, Lua? Me poupe. Eu nunca me apaixonaria por uma naja como a Ivane. – riu em escárnio. – Eu não sou o Thur. Não consigo ver o lado bom de todo mundo. 
- Então, por quê? 
Duan analisou Luinha dos pés a cabeça, depois trouxe a arma até o rosto e passou a língua no cano, como se mostrasse que sabia exatamente o que estava fazendo. 
- Ainda falta o quê? – ele olhou no relógio. – Meia hora para o espetáculo terminar? Bem, de qualquer forma, até lá você não vai estar mais entre nós... Você não sabe como eu estou me coçando para fazer uma bala atravessar direto o seu coração, Marques. Você não tem nem idéia... – ele voltou a mirá-la com o revólver. Lua engoliu em seco. 
- Você não me respondeu. – falou depressa. – Por que você matou a Ivane, Duan?
- Porque ela – um lampejo de raiva passou por seus olhos. – não merecia estar com o meu Thur. Ela não merecia seu afeto. Ivane era apenas mais uma garota que não valia nada, que o apunhalava pelas costas. Ela estava comigo antes das aulas começarem. Nunca devia ter se engraçado para o meu melhor amigo. Eu a avisei. Disse que era pra ela ficar longe dele... Mas ela me ouviu? A única coisa que fez foi rir da minha cara. – ele trincou os dentes. – Ela disse que eu era apaixonado por ele. Que tinha desenvolvido uma obsessão pelo Thur. E que naquela noite mesmo ela trataria de contá-lo. – Duan voltou a dar um de seus sorrisos lunáticos. – Só que, é claro, ela não contou. Não teve tempo. Eu nunca permitiria que ela sujasse minha imagem com o meu Thur. Aliás, ele é que não devia ter desenvolvido sentimentos por mais ninguém além de mim. 
Lua o encarou estática durante o relato, para enfim, quando ele terminou de falar, ela semicerrar os olhos. 
- Você está dizendo que é apaixonado pelo Thur, é isso?
Adams gargalhou.
- Claro que não. Eu não sou homossexual, se é o que está pensando. Apenas acho – voltou a admirar a arma. – que eu deveria estar no centro das atenções do meu amado Aguiar. E não qualquer outra pessoa. Não Ivane. Não você.
- E o que te leva a pensar algo assim?
- Ai – ele revirou os olhos e sorriu, como se estivesse achando aquilo tudo divertido. – vamos lá, Marques. Não é possível que essa conversa vai durar a vida inteira. 
Luinha percebeu que os olhos do garoto também estavam lustrosos, como se ele estivesse prestes a chorar. 
- Ele é a única pessoa que você tem. – deduziu. 
- E eu deveria ser o único na vida dele também. Eu vou aniquilar qualquer um quer queira tirar isso de mim. – algumas lágrimas escorreram pelo rosto pálido do garoto enquanto ele rugia essas palavras. Lua intimidou-se ainda mais, sentindo o vento frio tocar sua pele rasgada. 
- Mas isso não explica porque você matou a Paskin. 
- A Paskin. – Duan falou com cara de entediado. – Aquela velha só estava no lugar errado na hora errada. Não precisava ser assim. Ela não precisava ter lido aquele papel. Quando fiquei sabendo que ela tinha sido encarregada de checar as folhas de detenção do ano anterior, imediatamente fui até onde ela estava. Já sabia que ela seria mais uma na minha lista. 
- Que papel? – Luinha juntou as sobrancelhas. 
“Isso!” ela pensou “É só mantê-lo falando até as pessoas saírem. É só mantê-lo falando...”. 
- Uma folha de detenção que por acaso era do semestre anterior ao assassinato. Quando a senhora Campbell encontrou eu e a Iv numa situação digamos... inapropriada para um banheiro feminino. – sorriu maléfico. – Sorte minha que ela é tão burra que esqueceu esse ocorrido, de forma que nenhuma suspeita foi levantada pro meu lado. A ocorrência já estaria devidamente enterrada se a Paskin não tivesse voltado a pô-la à tona. Que azar o dela... – fingiu pena. 
- Mas você... No assassinato da Ivane as circunstâncias estavam tão a seu favor. Você não pode ter agido sozinho. – ela suava frio. 
- E não agi...

Um ano antes...

“Londres; Highgate High School; segunda-feira; 5:10 da tarde;

Assim que viu Thur se mover na quadra de grama, chutando algumas bolas na direção do gol, Ivane se escondeu atrás da grade. Sentia que seu coração sangrava toda vez que via o rapaz, ainda mais depois de ter feito o que fez.
O que havia de errado com ela, afinal? Ela o amava com todo o coração. Então o certo seria que ficassem juntos a todo custo. Não era Brittany, Scott, Duan ou qualquer outra pessoa que iria separá-los.
Ivane esqueceu completamente a mágoa que tinha ao vê-lo aos beijos com Brittany no final do jogo contra a Drayton. Aceitou a explicação do rapaz de que tinha sido pego de surpresa, mas ele não parecia ter aceitado o fato de ela ter tido uma relação com Scott. Tudo certo que o queThur tinha feito não assumia as mesmas proporções que teria se ele tivesse se deitado com a Brittany, mas feria da mesma forma.
Thur estava disposto a não aceitá-la de volta depois de saber do ocorrido entre ela e Scott. Quem mesmo havia contado isso a ele? Alguma líder de torcida fofoqueira?
Ivane suspeitava seriamente de Kelly Sparks, mas preferiu não fazer nenhum alarde em cima disso.
Observou Thur novamente em sua camisa suada dos Eagles. Ivane sentiu seu estômago entrar em erupção enquanto observava as oscilações do peito do garoto enquanto respirava.
Ela não podia ficar sem ele. Estava determinada a tê-lo de volta a todo custo...
Colocou os pés no gramado caminhando decididamente até o amado, que parou o que estava fazendo assim que a viu se aproximar. Arthur olhou-a magoado, depois voltou a olhar a trave, ignorando sua presença.
- Precisamos conversar. – ela disse.
- Eu não tenho nada pra falar com você, Ivane.
- Mas – ela segurou o rosto dele de forma a fazê-lo olhá-la nos olhos. – eu te amo, Thur.
- E do que serve o amor? Do que serve o amor se não se pode haver confiança e lealdade?
Ivane deixou a fúria transparecer em sua face.
- Você me traiu primeiro!
- Eu não a traí. – Thur falou esgotado, como se repetisse isso pela milésima vez. – Já disse que fui pego de surpresa.
- E eu fui tentada a fazer o que fiz, Thur. – ele a olhou incrédulo. – Você conhece quando eu fico com raiva. Conhece a fraqueza da minha carne. Por que simplesmente não aceita minhas desculpas?
Ele voltou a alternar seu olhar da trave do gol para a bola em sua mão com a expressão ininteligível.
- Eu já disse que não há mais nada entre nós.
Ivane fitou-o nos olhos durante alguns segundos, deixando a astúcia e a mágoa confundirem-se em suas feições.
- É aí que você se engana.
Arthur voltou a olhá-la com desconfiança.
- Por quê?
- Thur, - Ivane segurou as mãos do rapaz com comoção, seus olhos agora eram grandes poças por onde a água vazava. – eu estou grávida. – o semblante de Arthur se tornou de completa confusão e espanto. – Grávida de um mês. Grávida... de você, Thur.
O rapaz ficou inexpressivo durante vários segundos, apenas absorvendo as palavras da garota. Grávida? Ele seria... Pai?
Apesar de já ter começado a sentir os joelhos fraquejarem e os a vista ficar turva com a revelação, ele não pôde deixar de perguntar:
- Você tem... Alguma prova disso?
Ivane consentiu veementemente, enfiando uma das mãos em sua mochila bonina e tirando de lá um teste de gravidez.
- Duas linhas – ela mostrou. – Deu positivo. Ontem mesmo fui consultar um médico.
Thur perdeu para o tremor e o choque, sentando-se no chão ainda com os olhos arregalados. Ivane, com o rosto iluminado com um largo sorriso, sentou-se a sua frente e segurou suas mãos.
- Eu vou ser pai? – Arthur perguntou em um sussurro incrédulo.
- Vai, meu amor. Eu estou esperando o seu filho. Nós vamos ser pais, Arthur.
Thur apertou as mãos da menina, enfim tendo alguma reação e demonstrando seu sentimento sobre aquilo tudo: surpresa e medo, apesar de felicidade e entusiasmo.
- Você me perdoa? – ela perguntou.
Arthur sorriu, afagando seus cabelos longos e loiros.
- Como eu poderia não perdoar a mãe do meu filho?
E assim, ajoelhando-se, Ivane selou seus lábios com os do amado.

- Você não vai voltar pra casa. – Thur disse, caminhando até seu Audi preto e abraçando Ivane por trás, de modo que pudesse encostar suas mãos na barriga da menina.
- Ah, é? – ela sorriu. – Por que não?
- O pai sou eu. Eu quem tomo conta da mãe e do bebê a partir de hoje. – assim que chegaram ao veículo, Thur encostou Ivane no carro, segurando-a carinhosamente pela cintura. – Você irá morar comigo. Na mansão.
- Que chique. – ela disse cheia de pompa. – Vai parecer até que somos casados.
A expressão de Thur se alterou da risonha para a séria.
- Eu realmente quero dar um lar a essa criança, Iv. Não quero que ela se sinta rejeitada de forma alguma. Não quero que ela seja filha de uma mãe solteira. – segurou a mão da amada, que o fitava com admiração. – Quero que você se case comigo, Ivane Whinsky.

Londres; Mark’s; sexta-feira; 5:12 da tarde;

- Mais uma aí, Bob.
Kimberly caminhou para dentro do pub observando Mica dizer a mesma frase de sempre. Em sua blusa azul xadrez o menino parecia até mais atraente. Melhor, Kimberly achava, para os seus propósitos.
Depois de Duan ter avisado Brittany sobre os planos de Thur de se juntar legalmente a Ivane, o plano dos três tinha tomado mais corpo. Eles pretendiam se livrar de Whinsky, e cada um por um motivo diferente.
Brittany a queria fora do páreo. Sem Ivane por perto, ela teria o caminho livre para se aproximar do amado.
Duan não quisera compartilhar com nenhuma das duas seus motivos, mas Kim pensava que ele estivesse afim de Iv, ou algo do tipo.
Já Kimberly, apenas teria o prazer de ajudar sua melhor amiga e prima a se juntar ao homem que ela amava. Nem que para isso tivesse que dopar Daniel Borges e acabar com seu namoro.
Sentou-se ao lado de Mica dando seu melhor sorriso despretensioso. Puxou um assunto leve com o menino, que parecia mais inocente do que ela imaginava. Assim que ele se levantou para ir ao banheiro, Kimberly depositou na bebida que tinha pagado para ele algumas gotas da droga que Duan as intuíra a comprar.
Quando Mica voltou e bebeu o liquido a largas goladas, Kim conseguiu comprovar o efeito do medicamento. No momento em que o rapaz já não estava mais dizendo coisa com coisa, conduziu-o para o lado de fora do pub, pegando a chave do Fiesta de Daniel e colocando-o para dentro.
Brittany, Kimberly lembrou-se, estava ajudando Duan com o transporte de algo mais importante.
Tudo o que Kim teve que fazer depois de conduzir Mica até o apartamento, fora deitá-lo em sua cama e esperar que o mesmo apagasse.

Longe dali, Brittany estacionava seu ecoesporte preto na porta da mansão, com Duan ao seu lado.
- Você sabe como nós vamos nos ferrar se isso der errado. – ela falou nervosa.
- Não vai dar errado.
- Já está tudo certo? Já sabe como entrar? – movia suas freneticamente com a ansiedade. Duan assentiu. – Mas e se a Melzinha e o Chayzito aparecerem por aqui...?
O goleiro rolou os olhos.
- Eles não vão aparecer por aqui. Não ainda. Pelo que me lembro, eles estão na detenção por terem pregado aquela peça idiota na Drayton.
- E o porteiro?
- Devidamente subornado. Com o dinheiro que eu ofereci, ele até me ensinou como burlar o sistema de segurança.
- O quê? – ela disse em deboche. – Aprendeu a se desviar de lazers?
- Melhor que isso. – Brittany olhou-o com curiosidade. – Aprendi a desligar todas as câmeras de segurança.
Ficaram um tempo em silêncio observando a movimentação na casa. Algumas luzes eram acesas e apagadas. Por uma vez, Brittany teve a impressão de ver Thur pela janela da varanda.
Dez minutos depois, Duan abriu a porta e se colocou para fora do veículo, andando sorrateiramente até o portão da frente, onde um porteiro magrelo e de terno cinza o recebeu com um sorriso maldoso.

Alguns minutos tinham se passado dentro do ecoesporte e nenhum sinal do Duan. Brittany estava começando a ficar aflita enquanto olhava pelo relógio.
Essa era uma daquelas horas que começava a repensar em seus atos. Não queria repensar, pois, se repensasse, provavelmente voltaria atrás. Tirar a vida de uma pessoa, quem ela pensava que era afinal, Deus?
Mas quando se lembrou das provocações e agressões de Ivane no banheiro feminino, mudou seu ponto de vista. Ela merecia morrer. Merecia estar morta, e não se casar com Arthur Aguiar.
Brittany permaneceu imersa em pensamentos até que um táxi estacionou do outro lado da rua, deixando ali uma garota que, apesar de sua estatura pequena, fez com que a loira arrepiasse até seu último fio de cabelo.
Mel. Ela não podia estar ali naquela hora!
A mente de Brittany começou a trabalhar depressa, pensando em algo que pudesse atrasar a menina, ou simplesmente afastá-la da mansão por tempo o bastante. Mas não conseguiu chegar a uma conclusão. Quando percebeu que Mel tinha virado seus olhos para dentro da mansão e encarava alguém com as sobrancelhas juntas em confusão, não teve dúvidas de que ela tinha visto Duan.
“Merda!” pensou Brittany, escorando sua cabeça no volante com a aflição e deixando algumas lágrimas de desespero rolarem.
Mas foi quando Melzinha resolveu atravessar a rua que a mente de Brit se clareou. Ela enxergou ali a oportunidade perfeita, enxergou no movimento da menina miúda exatamente o que deveria fazer.
Sem mais dúvidas, Brittany pisou no acelerador...”


- Eu e a Brittany visitamos a Melzinha enquanto ela estava inconsciente. Eu pretendia matá-la asfixiada, mas quando o médico disse que ela tinha sofrido danos cerebrais e perdido a memória, resolvi pagar pra ver. – Duan sorriu. 

Thur acariciava as têmporas com os dedos, para estimular sua memória. 
“Vamos” ele pensava “Quem mais ficou desacordado naquele dia?” 
Alguns rostos aleatórios passaram por sua mente, mas nada significativo... Até que uma frase em particular, dita por uma pessoa próxima, atingiuThur como se fosse uma bola de boliche. 
Uma lembrança enterrada, que antes Aguiar teria julgado inútil. Mas assim que pensou um pouco mais sobre o assunto, seu interior se congelou.
“- A culpa foi minha, na verdade. Se eu não tivesse bebido até desmaiar, o Duan não precisaria ter me arrastado pra casa, e nós poderíamos ter estado lá.” Josh dissera. 
Mas não fazia sentido. Não podia fazer... Então, apunhalado por outra memória, Thur sentiu o gelo dentro de si se transformar em uma erupção vulcânica. 

“Melhores amigos não precisam necessariamente contar tudo um pro outro, não acha?”

- Eu não suporto – Duan disse com os dentes trincados, apertando ainda mais o revólver em sua mão na direção de Lua. – ir às aulas e ver todo dia o fantasma de Ivane cometendo os mesmos erros...
Luinha pregou as costas no muro sem coragem de respirar. Não conseguiria mais enrolar Duan com sua conversa. Não conseguiria mais mantê-lo falando.
A menina respirou fundo, colocando a mão no peito para sentir, nem que fosse pela última vez, as batidas do próprio coração. As lágrimas, agora geladas, não deixaram de correr por suas bochechas durante nenhum segundo. 
- Algum último pedido, Marques? – ele desafiou com um sorriso maníaco. 
Lua espremeu os olhos, tentando de alguma forma desaparecer daquele lugar. Mas era inútil. Continuava sentindo a tensão esmagadora e a aspereza do muro em suas costas.
Trêmula, voltou a olhar para Duan com os incisivos. 
Era esse seu destino, então. Não devia temê-lo. Não devia ter medo da morte. Era isso o que a vida tinha planejado para ela, portanto não deveria se intimidar. 
Esboçou um sorriso insolente, e com um guincho, respondeu:
- Eu quero que você morra. 
E então, Duan apertou o gatilho. 
Lua fechou os olhos e tirou a mão do peito, esperando o impacto direto... Que acabou não vindo. Ao invés disso, sentiu como se um vulto tivesse se jogado em sua frente, e junto com ele, sentiu algumas gotas quentes lhe acertando o rosto. 
Quando abriu os olhos ainda zonza, viu um corpo cair ao seu lado. Um corpo que fez com que suas mãos se transformassem em pedras de gelo. 
No segundo em que se deu conta de quem era, o tempo pareceu parar. Tudo a sua volta ficou imóvel, inaudível. Lua ouviu as pancadas de seu coração contra as costelas uma, duas, três vezes. E então não agüentou. Rompeu o universo paralelo em que se encontrava com um urro de dor:
Thur! 
Lua correu até o amado em um furor. Carregou o tronco de Arthur sem se importar com o peso, que era abafado pela descarga de adrenalina em que se encontrava. Virou o rosto do garoto para si, as lágrimas agora mais freqüentes que nunca. 
Luinha observou os olhos pesados de Thur, reparando enfim no líquido quente que escorria em seu vestido. Arthur, com esforço, virou seu olhar paraLuinha, levantou uma de suas mãos e lhe acarinhou o rosto. 
- Como deveria ter sido. – sussurrou. Fez força com a nuca até que seus lábios estivessem bem próximos dos dela dando-lhe um selinho simples, e assim, como o Romeu da peça teatral, pronunciou: - E com um beijo, eu me despeço da vida...
Quando Thur fechou seus olhos e deixou a cabeça pender de lado, Lua berrou. Um grito gutural que se confundia com seus soluços. 
Duan observou a cena estático, sem conseguir mover um músculo. Quando se deu conta do que acabara de fazer, deixou o revólver cair, acertando o mármore com um alto som metálico. O loiro deu uma risada incrédula e quando viu o corpo mole de Arthur, jazido no colo de Lua, despencou sobre os próprios joelhos. 
- Margarida – sussurrou, engatinhando rapidamente em direção ao corpo do amigo. – Margarida... Margarida! – urrou ao chegar perto. E quando esticou seus dedos finos e gélidos para tocar a testa do amigo, algo lhe atravessou a testa. 
Luinha conteve um grito quando sentiu o sangue de Duan esguichar em seu cabelo. Conteve um grito ao olhar para o rosto do loiro e ver, bem em sua testa, um enorme buraco de bala. Ainda assustada e chocada demais, Lua ergueu os olhos para ver de quem tinha vindo o tiro. 
Em pé, chacoalhando com o nervosismo e segurando firmemente a arma que o goleiro deixara cair, estava Brittany. Quando a garota abaixou o olhar para Thur, ela caiu sentada, grasnando e chorando alto como um filhote de corvo. 
Lua se voltou para o rosto do amado, sujo de sangue, embora tranqüilo. Acariciou-lhe a face ainda entre soluços e sussurrou o que guardava para si mesma desde que o conhecera:
- Não me deixe, Thur. Eu amo você.

2 comentários:

  1. nooooossa, preciso do ultimo cap!!!

    ResponderExcluir
  2. mais por favor vou morrer de tristesa se não ler o proximo capitulo

    ResponderExcluir

Antes de comentar saiba que:
- Comentários contendo apenas divulgação, sem nenhuma opinião sobre o assunto do post serão deletados;
- Comentários contendo apenas "Oi, segue meu blog" também serão deletados;
- Não custa nada ler pelo menos uma parte do post antes de comentar!